Review: 25 de Novembro sem Máscara
Written in Portuguese.
Em 1979, uns escassos 5 anos depois do 25 de Abril de 1974, o Alm. Pinheiro de Azevedo publicou o 25 de Novembro sem Máscara.
Não obstante não ser um figura histórica particularmente conhecida, Pinheiro de Azevedo esteve envolvido em praticamente todo o período revolucionário. Aderiu ao MFA e participou no 25 de Abril. Foi membro da Junta de Salvação Nacional e do Concelho da Revolução. Tomou posse como Primeiro-Ministro no VI Governo Provisório, cargo este que exercia quando se deu o 25 de Novembro.
O episódio mais conhecido em que esteve envolvido foi o do Cerco à Assembleia Constituinte, quando por volta de 100 000 manifestantes sequestraram o Governo e os Deputados. Terminado o cerco, o Almirante foi entrevistado e aí declarou, com uma postura praticamente casual, as palavras que o imortalizaram como o Almirante sem Medo:
Estou farto de brincadeiras (…) Fui sequestrado. Já duas vezes. Já chega, não gosto de ser sequestrado. É uma coisa que me chateia.
Tendo aderido ao MFA no espírito do Programa por este proposto, o Almirante — um moderado — manifesta-se consistentemente contra todos os exageros revolucionários e o primar da extrema-esquerda que caracterizou o período entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro.
Critica a forma como a descolonização é feita, entregando o ultramar a facções satélites da União Soviética e impedindo a auto-determinação dos habitantes — o que culminou na crise dos retornados. Mostra-se contra as expropriações e nacionalizações praticadas com autorização do Governo, ambições colectivistas estas que destruíram grande parte do poder económico. É crítico da aprovação da Constituição de 1976, de inspiração soviética.
Mas é o 25 de Novembro que o livro, principalmente, trata. O Almirante descreve o evento como existindo sob uma “máscara hipócrita do regresso à pureza do 25 de Abril”. Interpretação esta que, hipócrita ou não, corresponde hoje, 45 anos depois, à norma.
Afirma que o 25 de Novembro não serviu para por termo aos excessos revolucionários mas que, pelo contrário, serviu para os legitimar.
A revolução já estava feita, só faltava garantir que não seria desfeita. A Constituição de 1976, escrita durante o período de domínio comunista, foi aprovada. As conquistas comunistas foram legitimadas. O 25 de Novembro derrotou o Partido Comunista e desmobilizou a frente anti-comunista que se estava a formar. O PC perdeu força mas o seu trabalho já estava feito: a descolonização, as expropriações, a Constituição.
Num tom mais conspiratório, alega que o 25 de Novembro terá sido executado de acordo com um plano pré-estabelecido do PC que visava eliminar facções políticas à sua esquerda. Mais ainda, acusa que o Presidente Ramalho Eanes terá sido escolhido pelas chefias do PC para por este plano em marcha – porque, alegadamente, teria simpatias comunistas.
Verdade ou não, o livro relata uma perspectiva diferente sobre a revolução, redigida por um dos seus intervenientes. Só por isto, merece ser lido.
Anotei uma passagem do livro que achei particularmente lúcida:
Posição típica, aliás, dos homens de esquerda: os princípios estão sempre certos, são sempre certos; na forma de actuar é que podem haver erros e a acção é que é susceptível de correcções.