Review: As Causas do Atraso Português
Written in Portuguese.
O Professor Nuno Palma, da Universidade de Manchester, escreve-nos uma versão da história económica portuguesa mais moderada, preocupada em desfazer noções e interpretações sobre o nosso passado que não são correctas.
Nas palavras de João Miguel Tavares, o livro é “uma máquina de triturar mitos.” Sintetizo aqui alguns daqueles que mais me disseram.
O primeiro, sobre o Marquês de Pombal. Um homem tido, por norma, como progressista, à frente do seu tempo e um ditador iluminado. Este deu, no entanto, início ao atraso educativo do país ao expulsar os jesuítas – que regiam a maior parte das escolas, na altura – sem implementar um sistema de ensino alternativo. Atraso educativo este do qual, ainda hoje, não recuperámos.
Seguindo para a Primeira República, tida como o início da nossa democracia e violentamente interrompida pelo reaccionarismo do Estado Novo. O autor descreve que estes foram anos perdidos, de regressão, onde as poucas reformas legisladas ficaram, apenas, no papel. Curiosamente, apesar de haverem eleições, haviam muito poucos eleitores elegíveis já que os analfabetos não podiam votar. Estes formavam 70% da população em 1911.
O capítulo sobre o Estado Novo é o mais polémico. O autor destaca que o número de analfabetos que apenas descera de 70% para 62% na Primeira República foi reduzido para 42% em 1950. Que a industrialização e convergência económica com a Europa Ocidental foram iniciadas em 1950 e que o rendimento média por pessoa subiu “de forma vertiginosa” multiplicando-se por cinco de 1926 a 1974. Que a percentagem de indivíduos que sofriam deficiências de crescimento (por causa da mal-nutrição e falta de cuidados de saúde) desceu, drasticamente, nos anos da ditadura.
Citando Nuno Palma, “qualquer sucesso a nível do desenvolvimento económico e dos efeitos favoráveis para o bem-estar das populações não justifica o amordaçar da liberdade.” O que é inquestionável. Igualmente inquestionável é que participar em revisionismos históricos é profundamente anti-democrático. Devemos olhar, objectivamente, para os sucessos e insucessos do Estado Novo e ambicionarmos, sempre, fazer melhor em democracia.
Para finalizar, destaco um último ponto – o que achei mais interessante – que é a análise que o autor faz das repercussões negativas do pendor socialista do 25 de Abril. O primeiro destes sendo a primazia, na Assembleia da República, de partidos que propõem sistemas económicos desadequados e que, dogmaticamente, rejeitam ideias alternativas. Outro, a carga negativa atribuída a termos como “liberal”, “capitalista”, “conservador” e “de direita” que são desprovidos de significado e usados como insultos para inviabilizar partidos, pessoas e ideias. Tudo isto em prejuízo das pessoas.
O livro é extremamente legível e não há qualquer indício de academiquês. Os únicos aspectos negativos que destaco são o meta discurso, por vezes, excessivo e uma crítica demasiado constante ao status-quo da história económica e aos os seus autores – sendo, no entanto, esta crítica perfeitamente legítima.