Uma Verdade Inconveniente
Written in Portuguese.
A prioridade excessiva que é dada à redução das emissões de carbono, em Portugal, resulta em pior qualidade de vida para todos os portugueses e consolida o trajecto que Portugal faz para país mais pobre da União Europeia.
Grande parte das emissões de carbono são resultado de processos industriais e agrícolas, transportes e produção de energia. Áreas que, entre outras, formam a economia dum país. Ter uma economia forte permite com que haja mais investimento público e, consequentemente, um melhor Serviço Nacional de Saúde, melhores escolas, uma Segurança Social mais sólida e todo o tipo de outros serviços públicos de qualidade.
O crescimento económico traz também mais riqueza. Parte desta riqueza acaba nos bolsos de empregados e trabalhadores de empresas e do Estado. Quando as pessoas têm mais dinheiro, podem ascender da pobreza e ter melhor qualidade de vida.
Se há mais dinheiro, o país torna-se mais robusto a crises económicas. Quer o Estado quer os próprios habitantes podem recorrer a poupanças que não teriam conseguido acumular se o país fosse mais pobre e os salários fossem mais baixos.
Portugal é um pais com uma economia muito fraca e com condições de vida que espelham esta fraqueza. Consequentemente, polui muito pouco.
Aliás, por causa do deslocamento da indústria para a China, toda a União Europeia é já das regiões com menos emissões de carbono per capita. A maior economia da UE, a Alemanha, contribui com 1.77% das emissões de CO2 e Portugal com uns meros 0.11%. Por outro lado, os Estados Unidos e a China emitem, respectivamente, 12.61% e 32.48% do total de emissões.
Se dividirmos estas emissões pelas populações dos países, obtemos uma taxa de 7.72 para a Alemanha e 3.96 para Portugal. Os Estados Unidos têm uma taxa de emissões de 13.62 e a China de 8.2.
Não só temos uma proporção muito reduzida na contribuição para as emissões globais, como nossa taxa de emissões por habitante é também já inferior à destes grandes países.
Se, magicamente, optássemos por eliminar a totalidade das emissões de CO2 nacionais para “salvar o clima do planeta”, o efeito ia ser praticamente simbólico – apenas 0.11% do total das emissões! – e as consequências para o país seriam absolutamente trágicas.
Em 2016, todos os Estados-Membros da UE ratificaram o Acordo de Paris que visa uma redução drásticas de 55% das emissões de CO2, com uma limitação da subida de temperatura entre 1.5 a 2ºC. Dificilmente este acordo será cumprido por causa das graves implicações económicas. Sendo estas metas já extremamente ambiciosas, não faz qualquer sentido que o Programa Nacional Energia e Clima 2021-2030 (PNEC2030) estabeleça metas ainda mais hiperbólicas que as próprias metas comunitárias!
Portugal, um país com tremendas dificuldades e vulnerabilidades económico-financeiras, não se pode colocar na linha da frente do combate climático, com uma ambição ainda maior que outros países muito, muito mais ricos e poluentes.
Esta ambição desmesurada já está, aliás, a ter custos. Temos sido vanguardistas no investimento em fontes de energia renováveis. Estas fontes são, de facto, menos poluentes mas são também muito mais caras. São recentes, implicam a utilização de minerais e metais raros e o licenciamento de tecnologia estrangeira. Isto, inevitavelmente, reflecte-se no preço da energia – um dos mais altos da UE – e afecta as empresas, exportações e emprego o que, claro, enfraquece a economia.
É produtivo fazer algum esforço para descarbonizar, mesmo numa perspectiva de solidariedade para com os outros países. Mas temos que proporcionar este esforço às nossas emissões e produção. Não o fazer é ceder ao populismo e escolher ignorar a realidade: colocar a redução das emissões no topo da agenda política é prioritizar o empobrecimento.
Este artigo é inspirado e baseado no livro “Ambição: Duplicar o PIB em 20 Anos”, coordenado por Álvaro Beleza e Abel Mateus.